Manchaman
A contemporaneidade viu a ascensão das pintas e manchinhas como instrumentos de demonstração de profundo sex-appeal. Estrategicamente dispostas sobre determinados pontos do rosto, elas foram responsáveis pelo sucesso de grandes ícones da mídia mundial.
Vide os exemplos de Marilyn Monroe, Cindy Crawford (nesta foto, com um maiô pouco cavado), Robert de Niro (ou será Al Pacino?) e, claro, Eri Johnson.
As pintas se tornaram símbolos de charme, sensualidade e mistério. No século XVI, falsas pintas colocadas sobre determinadas partes do corpo das damas da corte, como queixo, bochechas e testa, poderiam ter os mais diversos significados nos jogos de sedução. Mas, óbvio, se suas dimensões fossem devidamente adeqüadas ao tamanho do rosto. Diminutos sinais que formavam simétricos desenhos em relação aos contornos da face.
Diminutos.
Conheci um cara na Internet (todo mundo já fez isso, vão jogar pedra, é?). Papo vai, papo vem, telefone pra lá, cantadinha pra cá, e nada do rapazola me mandar uma foto. Pela descrição, ele tinha 1m87, forte, olhos verdes. Opa. Eu, que não sou bobinha, também não mandei foto porra nenhuma. E dei apenas alguns detalhes sobre a minha pessoa: 1m78, morena, cabelos longos, tipo Fernanda Lima. Ok.
Marcamos um encontro no acessível Nova América Outlet Shopping. Eu, sem-noção, levei uma hora de metrô até chegar ao ermo local. Mais de 30 minutos esperando, e eis que surge o mancebo. Como não sou míope nem nada, achei que talvez minha pressão tivesse caído, porque comecei a enxergar manchas vermelhas. Aliás, manchas não. Uma mancha só.
Ele chegou perto. "Oi, tudo bem?" Senti uma ligeira vertigem, mas segurei a onda. Nunca daria a perceber que eu estava chocada com o tamanho da mancha que o bruto tinha no meio da cara. Aliás, mancha não. Era uma estampa. Fingi que não vi. Eu sou uma pessoa muito humana, pô. Tentei agir naturalmente diante do Fantasma da Ópera. Começamos a conversar, e nos sentamos em um bar. Ele não cansava de dizer que eu era linda e maravilhosa, elogiando incalsavelmente minha pele. Por que será? Eu respondia com monossílabos, tentando relaxar e mentalizar mensagens cristãs de solidariedade e amor ao próximo.
- Ah, eu acabei nem falando nada... Você reparou que eu tenho essa 'manchinha' aqui, né? Esqueci de comentar...
- Manchinha? Ah, isso? Nossa, nem tinha reparado!
Ele disse que era de nascença. "Que coisa, hein?", murmurei e mudei de assunto, com tanta naturalidade que Deus me concedeu mais 10 mil pontos no programa de milhagens Heaven Smiles.
Acabamos ficando, e ele não beijava mal. Comecei a cogitar se a mancha poderia ser uma falha genética, na possibilidade de futuros filhos. Afinal, ele tinha um Gol branco 2 portas.
Pouco tempo depois, tocou o celular dele. Era a Mamãe-Mancha. O Paulo Felipe (nome verdadeiro) disse que ia ter que viajar para Angra (local de origem da Família Mancha), e iria embora naquele momento. A pressa era tanta que o bruto não se deu ao trabalho de me acompanhar até à saída. Um gentleman. Gentlemancha.
No metrô, quase na Central, toca o celular. Era o Mancha, dizendo que a mãe tinha dado um pití, e não ia mais viajar. E pediu pra eu VOLTAR PARA O SHOPPING!!! Como assim, cara-pálida? Aliás, cara-não-pálida? Ele insistiu. Não. Implorou. Não!!! Choramingou. Tchau. Ele ligou de novo. Desliguei o celular. Peguei meu ônibus, aliviada, e fui pra casa um pouco mais alegre, tomando um delicioso e refrescante Guaracamp.
O Mancha sumiu. No meio da semana seguinte, ele liga, me chamando pra sair. Com razoável educação, tentei dar uma desculpa. Ele insistiu. Ainda tentando alcançar o posto deixado por Madre Teresa de Calcutá, sugeri que talvez a gente pudesse ir ao cinema (já planejando levar Anne a tiracolo).
- Cinema? Tá, pode ser. Mas e depois?
- Depois o quê?
- É, depois do cinema. Vamos fazer o quê?
- Ué, eu vou pra casa.
- Ah, não. Eu pensei que a gente pudesse fazer uma outra coisa... (e deu uma risadinha boçal)
- Ahn??
- Tem algum motel barato aí perto da tua casa?
Como assim, Bial??? Até engasguei. Ele insistiu. Tentei explicar que eu nunca treparia com um mutante, ainda mais com o Mancha-Man. E, com petulância, avisou que só sairia comigo se fosse pra rolar uma sacanagem básica. Não discuti mais e desliguei.
O evento se apagou da minha mente, como um trauma de vidas passadas. Uns cinco meses mais tarde, toca o celular. Guess who? "Oi, tudo bem? Lembra de mim?"
- Lembro, claro. Mas agora eu estou ocupada tentando esquecer. Valeu, tchau.
Um mês mais tarde, toca o celular. "Oi, tudo bom? Sou eu, o Paulo!" Definitivamente, joguei meu pirocóptero na cruz. "Olha, filhinho, eu estou namorando, então, s'il vous plaît, desapareça, ok?" E ele ainda se reservou o direito de ficar putinho.
Isso aconteceu em 2003.
Ontem à noite, advinhem???
Agora, perguntem pra mim se o Denzel Washington me liga?? Perguntem pra mim se o Antônio Banderas me liga??? Caralho.
Pensei em marcar um encontro, só pra exercitar meu pum letal, mas desisti da idéia. Esculachei via telefone mesmo, e sem-noção apenas foi o elogio mais educado que eu usei antes de desligar.
19 Comments:
cuidado com essa história de trauma das vidas passadas pq serena tá ai pra provar que tudo volta. Por isso, não passe nem na frente do espelho!
Vc esqueceu de citar exemplos de pinta como Angélica e Mariah Carey!!! uhó
beijos
lipe
É, realmente eu havia pensado na Angélica. Mas de loira falsa, basta a Marilyn
eu acho que a mancha devia ser uma espécie de tatuagem tribal , demonstrando a virilidade masculina da tribo dos manéstolacas
olha que coincidência! lulu, você tem mesmo o dom! e sou eu, menina! sou eu!
hahaha
poxa, eu sou o diego, amigo do lipe. você tentou me esquecer assim como quis esquecer esse do post aí, né? a senhorita sumiu do meu msn, mulé! me deletou, maluca?
bem, estou aqui para dizer que eu também amo o seu blog. eu sou seu fã!
beijo
definitivamente, vou tirar o seu link do meus blog. To perdendo todos os meus leitores, que já são poucos. Até o Carlos lê seu blog e não lê o meu...
vc entende né lulu, o mercado de blog é muito concorrido e tal! hehehe
beijundas
quanto à cindy, andei pesquisando e soube que cavas muito altas podem dar gangrena na virilha.
Eu simplesmente AMEI seu blog! Nunca ri tanto! Vc escreve de uma maneira muito peculiar! Parabéns! Bjão
Aninhabhz
Desculpe, aí, mas eu rachei de rir do seu drama!!!
Ei, Lulu!
Achei seu blog hoje no Blog's burger e fiquei rindo no meio do meu trabalho... passei mó aperto! Daí, até indiquei pra Aninha (Aninha BHZ aí em cima). Você é hilária! Amei seu blog.
Uma situação do cotidiano se transforma em uma crônica nas suas palavras! Divina!
Bjos,
Brena
brenabraz@hotmail.com
Lulu, que mundo pequeno!
A Brena me indicou seu blog que ela descobriu pelo blog do Lipe.
Lendo os posts vi um do Diego....que trabalha comigo!
Mundo-vasto-mundo nada...mundo-ovo-mundo!
Estamos mesmo a seis apertos de mão de qualquer pessoa do planeta.
Ah, se o Denzel te ligar um dia, manda um abração meu para ele, tá!
Bjo e parabéns!
Carol
Lulis, só vc!!! Seus textos são os melhores!!!
Saudades de vc, bandida!
Lipe, pode deixar que eu continuo lendo os dois blogs, tá??
Amo vcs!!!
caralho, mulé! a carol que comentou aí em cima é minha amiga do trabalho meeesmo!
hoje de manhã, ela ligou pro meu ramal (nem precisava, pois sentamos a duas baias de distância) e perguntou se eu lia o blog da lulu, de niterói. porque, afinal, de dom só existe eu no mundo!
caralhooooo! lulu internacional!
hahaha
beijo, boneca.
hilário...
A cláudia abreu tbm tem uma manchinha. há quem diga que é sexy. vai saber...
eu tenho raiva dessas manchinhas, ainda mais qdo são 'enfeitadas' com pelo!
huaihauihia. Pum letal, isso valeria uma tese de monografia no meu doutorado!!!! huaihiauiuaa. mto ilario o seu texto, vc escreve super bem.
HeHeHe!
Não é à toa que existe o termo: "o sujeito é boa pinta"
bj
Que história, Luciana. Só você mesmo!!!
Tentei encontar uma maneira educada para dizer que vc é foda, mas não encontreii. Vc é foda! Show!
Tive convulsões na parte do "Gentlemancha". Hahahah.
Você também não tem medo de gente esquisita. Não é à toa que você é minha amiga...
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