Auto-chacotagem
Essa estratégia do gordo ridicularizar a si próprio é velha. Uma forma (humilhante) de fingir que ele acha graça daquilo que todo mundo realmente acha graça: ele próprio. Assim, rindo todos juntos, gordos e magros, do mesmo objeto de humor (os gordos), os gordos se sentem mais inseridos na sociedade, felizes. E os magros, satisfeitos, se sentem menos culpados, dentro deste grande picadeiro chamado sociedade ocidental.
Aliás, gordos que ridicularizam a si próprios, e, por tabela, aos seus semelhantes, estão no mesmo patamar que negros que contam piadas sobre negros. Mas porque estes últimos são politicamente incorretos, enquanto os primeiros são ?bem-resolvidos e engraçados?? Penso que eu não precisaria, na minha vida, de mais uma pessoa rindo de mim. Menos ainda se esta pessoa for eu mesma. Claro, óbvio e evidente que saber rir de si próprio é uma virtude. Mas no sentido de não se levar tão a sério, de encarar com humor e leveza os problemas da vida. O que não é a mesma coisa de ser motivo de uma auto-chacota.
Pois então o Jô foi logo chamando o Serjão de gordo, entre outras presepadas. O Serjão, inteligente, não deixou a bola cair, e foi logo comentando que acha uma palhaçada esse negócio das pessoas o chamarem de ?moreno forte?. "Porra, moreno forte?? Eu?? Eu sou negro, e sou gordo, pôrra!". Obviedade esta que foi aplaudida efusivamente pelo auditório. Aliás, as pessoas adoram louvar obviedades. Aquele livreco, "Homens são de Marte...", é o grande best-seller do século. Homens e mulheres são diferentes! Não diga! Eu nasci sabendo disso, e nunca ganhei nenhum puto.
E no nosso Brasil de obviedades, este grande "caldeirão da democracia racial", "moreno e forte" são formas de amenizar características tão depreciadoras como ?negro? e ?gordo?. É feio, é pecado, é crime, ser negro e ser gordo. Os dois ao mesmo tempo então... Aí, amorosamente, tentam usar o artíficio do eufemismo, pra não parecer que estão acusando ninguém de nada. Ainda mais de "negro" e "gordo". Pode dar processo, né? E fica chato chamar alguém de gordo. Tão chato quanto chamar de negro.
Neste contexto, vemos duas estratégias de sobrevivência para aqueles que são ?diferentes?, não da maioria, mas do status quo. Menosprezar-se, e ridicularizar-se, para fingir que se está inserido. E a outra é se assumir, com orgulho, sem se esconder, e, melhor, sem tentar fingir ser o que não é. Sinceramente, eu fico com a última opção.
Ah, e ele ainda emendou: "Eu tô fazendo a dieta da sopa. Sabe como é? Deu sopa, qualquer coisa, eu tô comendo". Rolei de rir. :-)

Serjão em momento descontraído, suando um pouco (pra quem não ligou o nome à pessoa, é o Seu Figueirinha da Diarista, e também puxador do bloco que vai bombar em Madureira)
Para ver o vídeo, ouvir o cd, ler a biografia, e/ou entrar em contato com esse negão espetacular chamado Serjão Loroza, clica aqui: http://www.serjaoloroza.com . O negão canta pra caralho e é a maior figura.